O Tarot di Bertazzi -
CARTA I - O TANSO
Nesta carta, vemos um sujeito despreocupado que baila, praticando malabarismo sobre labaredas, equilibrando por cima da cabeça alguns elementos: um instrumento musical, uma garrafa de bebida, uma espécie de animal e uma xícara de café.
Carrega no bolso da camisa uma muda de planta. Sua mão direita está ligeiramente solta e o pé direito segue devidamente calçado. Seu pé esquerdo está descalço pisando em uma labareda acesa. Ele parece não se importar e segue confiante o seu caminho.
Nuvens carregadas podem ser vistas ao fundo e chamas se espalham por todo o horizonte.
Análise da carta
O Tanso é uma carta poderosa. É o arcano maior que abre este Tarot. Alguns estudiosos costumam coloca-la como a última carta, afinal ela é a única carta de todo o conjunto, que não está numerada.
Pode-se dizer que é uma carta mestra, podendo indicar o início ou o fim do caminho, de uma história, de uma vida.
Um homem de aparência tranquila, pisando sobre o fogo jogando com vários elementos por cima de si mesmo, é a primeira leitura que se faz deste arcano maior.
O leitor mais atento saberá que estes elementos aparecerão repetidas vezes em outros arcanos. Eles são as peças chaves, os elementos fundamentais da existência humana
1 - Som - representado por algum tipo de instrumento de corda, uma viola, talvez. O som divino, a voz de Deus, que deu origem à todas as coisas: o “FIAT LUX” bíblico, o “OM” absoluto dos Vedas.
O som que abre as portas para a própria existência e que que reverbera infinitamente. Enquanto houver som, a existência se perpetuará.
2 - Líquido - representado por uma garrafa. Somos seres líquidos, num planeta líquido em sua maior parte. Há séculos descobrimos que nossos corpos são feitos de água. O líquido por si só é volátil e sem forma. Precisa de um recipiente que o proteja, que o guarde e lhe de forma. É assim com a água em nossos corpos, com o vinho na garrafa e com o oceano em nosso planeta.
A garrafinha pode conter água, ou vinho, ou até mesmo um veneno. O que é importa é que o Tanso sabe fazer o uso correto daquilo que estiver em mãos. A água refresca a secura da vida real, o vinho entorpece e faz sonhar e o veneno é capaz de dar fim à vida.
3 - Vida - Representado por um espécie de animal, com a cabeça solta do próprio corpo. Um ser decapitado, ainda atento e que insiste em respirar, no limite entre a vida e a morte.
O Tanso sabe muito bem que para se morrer, basta estar vivo. E é esse o resumo de sua existência. Ele respeita a morte ao ponto de brincar com ela, sem temer e sem se deixar freiar pela ideia de que um dia morrerá. Aproveita cada segundo de vida como se fosse o último, como se a vida fosse um longo baile.
4 - Despertar - representado por uma xícara de café. O café forte e amargo, que abre os olhos e nos tira do mundo dos sonhos. Sonhar é fundamental, mas, mais importante ainda é estar desperto pra quando a vida exigir ações imediatas.
O café é a ponte entre o mundo dos sonhos e a realidade dura, o mundo que cobra interações materiais e interpessoais. É o que nos tira do transe egoísta e nos revela um mundo habitado por outros seres, tão perdidos quanto nós mesmos e nos mostra que sozinho não podemos avançar.
O Tanso sabe brincar utilizar cada um destes elementos quando lhe convir.
Ela pisa sobre labaredas de fogo, pois sabe que nenhuma dor é eterna. Às vezes, vale a pena o sacrifício consciente para se lembrar que nem tudo é perfeito ou prazeroso. As chamas se estendem pelo horizonte, do lado esquerdo ( o passado ) até o lado direito ( o futuro ) desta carta. O Passado , o presente e o futuro são imutáveis, fazem parte do mesmo processo, o mesmo caminho.
A mão direita solta é a escolha que o Tanso faz de não se firmar acordos morais com a realidade. Ele não aperta mãos ou assina contratos. Ele sabe que nada é para sempre neste plano.
A planta que parece brotar do seu bolso, do lado esquerdo do seu corpo, sobre o coração é o sinal que,mesmo caminhando sobre um solo em chamas, árido e seco, algo de bom há de surgir e ele mantém as esperanças. Esquerdo é o lado sentimental, não racional e emotivo.
As nuvens carregadas que aparecem atrás, podem ser o indício de que um tempestade esteja a caminho. A chuva, que poderá apagar o fogo, refrescando o ar e o chão pode estar prestes a chegar.
Mas o Tanso sabe que chuva demais inunda, alaga e atrapalha a visão do caminho à seguir.
O chapeuzinho que leva sobre a cabeça é seu único teto, seu próprio lar. Faça chuva ou faça sol, sua cabeça está protegida. Assim como a garrafa é o recipiente para o líquido, a cabeça é o recipiente para as idéias e pensamentos.
O Tanso, é na verdade o sábio. Sabe dançar o grande baile da vida.
O Tanso, de bobo não tem nada.